6 de mar. de 2011

O Solista - parte 1


Hoje tive a oportunidade de assistir O Solista, com os talentosos Robert Downey Jr. e Jamie Foxx.
O filme, que estreou em 2009 no Brasil, é baseado em fatos reais, e conta a história de um jornalista que conhece por acaso, um sem-teto que foi estudante da famosa Universidade Julliard e é um prodígio em música clássica, que passa os dias tocando nas ruas de Los Angeles.
Deste encontro, nasce uma linda amizade entre ambos, onde, cada um, da sua forma, consciente ou inconscientemente, ajuda o outro a encontrar seu caminho e se tornar uma pessoa melhor.
Filme maravilhoso, emocionante. E nem poderia ser diferente, com tamanho talento de ambos os atores.
Este filme me fez pensar em várias questões, refletir sobre o que tinha visto e automaticamente trazer para a vida real questões a serem discutidas.
Dentre várias, vou começar a falar sobre o poder da arte.
Fui criada em uma casa diferenciada. Não por questões financeiras, mas, sim, pelo acesso que tive às mais diversas expressões de arte existentes.
Minha mãe foi bailarina, tocava piano e tinha, ou melhor, ainda tem, uma grande facilidade em executar atividades manuais. Meu pai foi músico profissional.
Desde a barriga de minha mãe, até ter alguns anos de vida, vi acompanhei alguns shows de meu pai. O que adorava, não por ele estar no palco, mas porque adorava ouvir a música. Ela mexia comigo, me fazia sentir diferente.
Passei muitos anos de minha vida jantando ao som de algum cantor, cantora, conjunto musical ou alguma música clássica. Isso me fez aprender a ouvir tudo, respeitar qualquer estilo, apurar meus ouvidos e, principalmente, sentir a música.
Quantas vezes ouvíamos alguma música e deixávamos que ela nos contagiasse e, quando percebíamos, já estávamos dançando no meio da sala?
Muitas vezes ouvimos algo que nem conhecemos ou entendemos e nos emocionamos. E isto é a música. Você não precisa entender, você precisa sentir.
Às vezes nos pegamos ouvindo algo que nem conhecemos e quando percebemos estamos emocionados, a ponto de nos arrepiar com o que escutamos. Esse é o poder da música.
Quantas vezes estamos tristes, chateados com algo e ligamos o rádio para nos distrair. Por alguns segundos, a sensação ruim passa, e nos desligamos dos pensamentos para sentir aquele som que penetra nossos ouvidos sem pedir licença.
Quantos tratamentos médicos são feitos ao som de música e comprovadamente pacientes tem sua melhora acelerada graças a ela?
Minha vida sempre teve fundo musical. Minha vida foi privilegiada por isso. Ouvi de tudo, sem preconceitos. Admirei alguns, outros apenas ouvi e não me tocaram. Mas, me permiti (e permito) passar por esta experiência. Vale muito à pena.
Passei por muitas experiências, nas quais a música me ajudou ou me inspirou. Uma delas foi na época de faculdade, na qual havia, na época, intercâmbio com a África. Em minha sala havia uns três estudantes africanos.
Uma das matérias do primeiro ano era educação física. Nela, além de esportes tradicionais, tínhamos aulas diferenciadas, como massagem, música, dança. E foi ali que algo mágico aconteceu.
Estava na aula de dança. Não era uma aula “normal” de dança, com coreografia, mas sim de sentir a música e, a partir da sensação que tivesse, dançar, se expressar como quisesse.
Estava fazendo isso. Sentindo a música. Olhos fechados. Gostava da experiência. Quando depois de um tempo chegou um dos alunos africanos. Sabia que a mistura de África com música daria algum ótimo resultado.
E foi melhor do que esperava. Foi uma das cenas mais lindas que já vi.
Fiquei observando tal aluno. Ele começou dançando normalmente. Aliás, com um ritmo absurdo. Depois de um tempo, ele fechou os olhos e parou de dançar. Percebi que deixou o corpo se movimentar conforme o que ia sentindo. Um lindo espetáculo se iniciava. Junto com aqueles olhos fechados, um belíssimo sorriso apareceu, deixando para trás toda uma história sofrida, cheia de problemas e restrições.
E eu, ali, observando tudo de camarote. Sendo testemunha do poder da música. Quantos milagres ela pode fazer?
Como já tinha aprendido com meus pais, estava atenta e pronta para perceber aquela pintura em movimento diante de meus olhos. Uma das cenas mais emocionantes que já presenciei.
Ouvimos sempre que, as coisas mais importantes da vida, são aquelas que custam menos. E são.
Estar aberto à música, ao seu poder de transformação e superação é uma das lições que aprendi na minha vida.
Você pode deixá-la apenas entrar em sua casa ou carro.
Mas, você pode deixá-la entrar em seu coração.
Faça esta experiência. Feche os olhos e coloque uma boa música. A sua boa música.
Afaste os pensamentos, deixe espaço para ela entrar.
Emocione-se. Sinta-a.
Ouça-a com o coração, não com os ouvidos.
Deixe seus sentimentos, seus instintos e suas emoções despertarem.
Este é o poder da música.