12 de mar. de 2011

Estilo de vida


Um dia estava assistindo um filme. Um romance. Como qualquer outro, senão fosse aquela frase: “nunca deixe alguém dizer que você é a rima, quando você é a poesia”.

Isso já faz alguns anos. E aquela frase continuava registrada em minha memória.

Pode até parecer algo tirado de algum livro comercial de auto-ajuda. Mas, dentro do contexto, aquela frase poderia encerrar o filme.

Naquela fase de minha vida, esta frase caiu como uma bomba. O verdadeiro tapa na cara.

Vi como estava deixando a vida me levar. “Me levar” para qualquer lugar.

Como se tivesse comprado uma passagem sem olhar o destino.

Vi que estava querendo pouco de MINHA vida. E, aquilo, era lamentável.

Afinal, somos muito para querermos pouco. Querer pouco da vida é covardia. E, quando se é covarde, mais cedo ou mais tarde a vida cobra isso de nós.

Precisava deixar meus sentimentos aflorarem livremente, sem medo, e veria como a vida se tornar mais agradável e fácil.

Viver é fácil, a gente que complica. Para que complicar a NOSSA vida, se seremos nós mesmo se que sofreremos as conseqüências desta escolha?

Escolher por ser feliz facilita bastante.

Medo?

Todos temos! Ele que coloca limites, o que é bom. Mas, viver em função dele, provavelmente, nos afasta de incríveis experiências e sensações. E, se bobear, até da felicidade, do amor e da realização pessoal.

A vida é uma só. É a chance de fazer direito. É a chance de ser feliz. Esperar é covardia. Provavelmente, quando se der conta, a sua vez passou... Como dizem: “ser feliz é o caminho, não o destino”.

Viver exige coragem. Coragem para ser feliz. A felicidade só depende de cada um, de força de vontade e do desprendimento ao que já passou.

E foi isso que eu fiz. Parei de deixar a vida me levar. Eu a direcionei. Valorizando-a ao máximo. Definido o que eu queria e, acima de tudo, o que eu não queria.

E foi aí que plantaram uma sementinha... Quem foi o autor de tal façanha? Rubem Alves. Com seu texto “Tênis X Frescobol”:

“Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.’

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...”



Guardei este texto, como se fosse um segredo. O meu segredo.

Guardei para um dia mostrar para alguém especial.

Sabia que este dia chegaria.

Não sabia que seria naquele momento.

Me senti como em um dos mais verdadeiros poemas de

Carlos Drummond de Andrade:

Conselho de um velho apaixonado

“Quando encontrar alguém e esse alguém fizer
seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa
mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está
esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo
for apaixonante, e os olhos se encherem
d'água neste momento, perceba:
existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia
for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça:
Algo do céu te mandou
um presente divino: O AMOR.

Se um dia tiverem que pedir perdão um
ao outro por algum motivo e, em troca,
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos
e os gestos valerem mais que mil palavras,
entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa
sofrer o seu sofrimento, chorar as suas
lágrimas e enxugá-las com ternura, que
coisa maravilhosa: você poderá contar
com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir
o cheiro da pessoa como
se ela estivesse ali do seu lado...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos,
chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra
envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção
que vai continuar sendo louco por ela...

Se você preferir fechar os olhos, antes de ver
a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes
na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais, deixam o amor passar,
sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem
cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!!”



É... Era a minha vez...



Afeição.

Afinidade.

Cumplicidade.

Amizade.

Lealdade.

Carinho.

Ligação afetiva.

Sentimentos.

Nada consegue transmitir.

Nada consegue definir.

É impossível.

Mania de querer procurar em dicionário o que só se encontra no coração.

Nada consegue expressar.

Nem a própria palavra.

Até porque seu sentido já foi deturpado, banalizado.

Só quem sentiu sabe o que é.

Sou uma pessoa de sorte.

Não precisei procurar no dicionário.

Eu senti. Eu sinto.

Ela dá outro significado à vida.

Ele traz cor à vida.

O amor.

Meu amor.

Anos de felicidade.

Pessoa especial que me diz diariamente que sou a poesia. Nunca a rima.

Pessoa especial, que diariamente, joga frescobol comigo.

Pessoa que me mostrou que o amor não é, apenas, um sentimento.

É uma filosofia de vida.

E que transformou o romance, de gênero de filme, para, um estilo de vida.